20 de fevereiro de 2017

Neon, neon, neon


meus ouvidos
já tão, tão imunes
ao seu bom dia confessionário
e a sua imagem
diluída em fragmentos
no meu imaginário

seu nome
escrito com tinta invisível
e sua morada
aqui travada
no meu peito

você parece querer frente
parece querer distância
e me deixa confusa, mas não reclamo
é agradável e é plano

contanto que você continue aí
tudo está bem
por mais que eu queira que se aproxime
e me mostre mais
me mostre além

não reclamo
mas é um conforto desconfortável
e eu troco de lado e balbucio silêncio
imensamente confusa e pouco decifrável

e embora meus cinco sentidos
vociferem pra que você vá
o sexto quer luz negra e tinta neon
só sabe ficar no mesmo tom

até que quando menos se espera
vem o sol, chamuscante e atrevido
ele passeia pelas fendas
e acaricia seu rosto
lugar
estritamente
proibido

tape os olhos
continue entre as nuvens
rápido, aja!
se esconda, fuja!

não dá
não dá
é tarde demais
é tão baixo e tão escuro
é tão pouco muro

um dois três
agrupe os números
em pequenas quantidades
e repita comigo outra vez

eu sou pequena sim
mas sou maior que esse muro
talvez não seja de todo ruim

um dois três
paro de contar
e quando paro eu sei
meus nervos vão te encontrar

aos poucos e aos cacos o espreito
não mais cerradas as palmas
liberdade, liberdade
liberdade ao percevejo

mas o que aterrizam são as córneas
o que se suspendem são os lábios
o que se vê não cai aos pedaços
o que é doce é mais que mero melaço

de repente é tudo enigma e novidade e estranheza
e eu não quero correr ou me virar
meus membros estão livres
mas eu escolho ficar

eu quero ficar
agora mais do que nunca
mesmo percorrendo seus traços
talvez
por ter percorrido seus traços

urgente, você me enfrenta
"esteja mais atenta"
eu estou
agora estou
e mais do que isso
sedenta

sedenta para anunciar
que sou eu a criadora de todas
todas as mil milhas entre nós
meu nome é neon
meu sobrenome, fantasia
e você é você e é o sol
sorria sorria sorria

nem nome nem endereço
nem o respirar nem o mexer dos seus dedos
te ver sob a luz de todas as cores
é o que mata todos os meus medos

e eu não preciso de luz nem de tinta
nem mesmo de palavras
pois pela primeira vez
consigo ser sucinta

basta ter desperto qualquer sentido
e todo o resto de mim é preenchido.

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