18 de abril de 2017

O curso de um rio


por cantos e por laterais, para longe das elipses molhadas e mortas.
por bolsas escuras e maçãs pálidas, rumo aos lábios ressecados e ressentidos.
descubra as pontas dos meus dedos e perceba que os meus segredos são muito maiores que você e o porquê de eu sempre escolher sapatos que me machucam.
em sua razão de existência constam meus muitos estragos e o caminho que percorre é só uma máscara inútil e degenerada e frágil demais.
o preto que se descasca sobre minhas unhas não é facilmente removível do outro lado do espelho e os medos me forram mais do que mil camadas de algodão em noites geladas de inverno.
está escuro e frio e meus pés não alcançam o chão, mas você sim.
pra quem ultrapassou toda essa estrada nebulosa e cheia de curvas e sombras a todo vapor, o limite é inexistente, as luzes são atraídas e arrastadas.
mas pra mim que sou estrada, só fica marca de pneu como evidência e vertigem ao olhar pra baixo e enxergar pura escuridão.
sua razão de existência é a prova da minha perda absoluta de razão
sua liberdade começa quando as algemas machucam meus pulsos e me empurram contra o chão
e é irônico, mas quando você leva embora minha água é o momento em que eu perco a respiração.
me afogo, me afogo, me afogo.
e sei que essa alma não está salva
e entendo que esse corpo não está são.

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