11 de maio de 2017

Solo

as palmas e as costas das minhas mãos estão geladas e toda a extensão do meu corpo treme e se debate de frio.
o sol está escancarado.
não é o tempo.

minha cabeça dói e meus olhos quase se fecham condenados pelas horas não dormidas e pelo cansaço.

já dormi menos que quatro horas antes. rotineiramente.
não é o sono, não é a exaustão.

está difícil respirar normalmente. e ficar de pé. e agir como uma pessoa comum. agir de acordo com a parte boa de mim que vem se revelando e se sentindo mais à vontade pra existir.

tudo isso porque a parte ruim não se contentou em ficar às escondidas.

será que isso é meu?

será que essa sou eu, a verdadeira eu?
tenho medo de que isso seja como o capuz preto e sujo que em algum momento eu escolhi usar pra estar colada em meus desejos. mas tenho ainda mais medo do contrário. de que o capuz tenha sido a parte boa e bonita e que caiu.
simplesmente caiu.

agora eu me vejo e tenho vontade de me afastar dessa pessoa.

eu me vejo e me pergunto se eu posso confiar em mim mesma. e prontamente respondo que não.
eu me vejo e vejo todo mundo e a vontade é correr até o topo das pedras e gritar enquanto eu souber produzir algum som mas tudo tem de ficar bem e eu não tenho a audácia de explodir por fora como eu me despedaço todos os dias por dentro.
eu digo que tenho de ser honesta mas eu não possuo o direito de desabar.
o meu nome ainda está escrito com a tinta mais duvidosa do mercado. não passa de um amontoado de palavras imundas que eu desaprendi a amar tal como desaprendi a amar todo o resto de mim.

mas é preciso ser mágica e repetir que está tudo quase bem e que em algum momento vai ficar tudo bem.
 
(só que eu não vejo um só fio do quase e guardo tudo isso em uma caixa com sete milhões de trancas, longe de tudo)

mas eu não estava sendo honesta daqui pra frente?

não foi o baú de sentimentos acumulados e reprimidos que iniciaram todo o colapso?

é que talvez eu seja mesmo ruim. talvez eu seja o capuz preto e sujo com cheiro de ditadura e gosto de mentiras e decepções.
e agora tudo que é ruim e consequentemente meu vem me assombrar e me obriga a acumular mais e mais sentimentos de culpa e não pertencimento e medo e solidão.
a velha ansiedade, já adormecida e praticamente esquecida, volta aos pulos e berros.
e o meu corpo a recebe de braços abertos e trêmulos e gelados.

talvez eu seja mesmo ruim e não possa ficar sozinha com os meus pensamentos.

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