25 de dezembro de 2017

Uma carta aberta ao ano das emoções




parece que faz uma eternidade desde que eu anunciei o iminente fim de 2016 e expus minhas constatações sobre crescer e fazer escolhas e sacrificar heróis contra a própria vontade. era tudo honesto e idealizadamente cru, com palavras que tentavam ser racionais, mas tombavam muito mais pra um lado introspectivo e emocional, como acontece com tudo aquilo que eu toco. meu último parágrafo disse tudo sobre aquilo que eu não era: alguém que se permitia.

àquela altura, eu não fazia ideia do que seria de mim. da minha vida. não existia direcionamento nenhum. do que eu tinha certeza: tudo seria diferente em alguns meses. de alguma maneira, eu iria pra um lugar desconhecido cheio de pessoas desconhecidas e só havia duas opções: me fechar num casulo confortável como a escritora cautelosa, romântica e presunçosa que sempre fui ou me entregar por completo e finalmente viver de uma maneira genuína e inteira. quando o avião chegou pra me levar, embora eu estivesse com medo por ser tão inexperiente e pequena, eu soube que a primeira opção seria inviável. 

de repente eu estava rodeada por prédios gigantescos, muito maiores que eu, e eu quis me expandir, quis me fazer tão grande quanto os prédios, e se eu não podia fazer isso externamente, eu deixaria minha intensidade sempre tão massacrada e reprimida me preencher. eu tinha de subir, de estar no topo. eu tinha de me permitir. de sentir violentamente. e você sabe o que eles dizem: quanto maior a altura, mais feia a queda. é verdade. mas foi lá no alto que eu pude entender que eu estava viva. foi caindo que eu percebi o peso dos meus ossos e a fragilidade da minha pele. o mais incrível? eu continuo viva.

como a última personagem que escrevi, me vi recitando o cântico 13 no tom mais sincero possível. logo no primeiro capítulo, uma nota aos leitores: "tenham paciência com ela". acho que eu deveria ter dito isso a cada pessoa que me conheceu. mas talvez tenha sido mais bonito desse jeito: não havia notas iniciais, finais ou gerais e, mesmo assim, essas pessoas foram generosas e pacientes e compreenderam (ou não) o furacão emocional que me habita. 

eles me viram no começo, como aquela que se esforçava pra conter a bagunça. depois, como alguém que não sabia domá-la. seguida pela que se diminuía pra se encaixar onde claramente não se encaixava. e pela que era tudo simultaneamente. agora, embora eu não saiba que tipo de pessoa eu sou, tenho a certeza de que aceito minhas escolhas, não importa o quão erradas elas pareçam ou sejam. eu aceito o que sinto e deixo as emoções apenas serem. e as pessoas generosas e pacientes que conheci no caminho também as aceitam. então tudo bem eu ser um ímã para o drama. talvez eu goste do drama. ele me lembra da sensibilidade e da fluidez da vida, que sempre me foram particularmente encantadoras. entretanto, eu nunca havia levado isso tão à risca.  

me deixei transbordar e foi tudo como eu imaginei que seria, muito embora nada tenha sido como eu imaginei que seria. me vi recomeçando de novo e de novo e de novo. renunciando a coisas, pessoas, sentimentos, desejos e expectativas e entendendo, amando e odiando o fato de que nada é nosso porque nada permanece e o de que se nada é nosso, nada pode ser realmente perdido (diga isso aos 2 celulares e aos 4 números que perdi esse ano). encarei espelhos com desprezo e me autodeclarei um fardo pela milésima vez. dancei sobre nuvens e sobre cacos de vidro, deixei o hipnótico tomar conta de mim, conversei com coelhos e percebi porque às vezes, por bem ou por mal, o eterno dura um só segundo. enfiei o dedo na garganta e vomitei meus sentimentos até perder a voz. atendi ao chamado dos meus impulsos mais primitivos. estive num processo de imersão de mim mesma que me fez o mais vulnerável dos seres por mais tempo do que seria considerado seguro. diversas vezes, achei que eu pudesse controlar coisas que só não estavam ao meu alcance. contudo, em certos momentos, o que eu gosto de chamar de algoritmo do universo simplesmente acontece.

todas as teorias da garota que escrevia histórias caíram por terra. precisei me apoiar em novas teorias pra tentar trazer algum sentido pra alguma coisa. pra tornar mais fácil viver em um mundo selvagem e tão novo pra mim. o que eu descobri, entretanto, é que a vida não é pragmática como uma correção de texto. é mais como um longo processo criativo ficcional. não é marcar a porra de um gabarito. é receber uma folha em branco com a pergunta mais subjetiva já inventada e esperar por um resultado cujos critérios de avaliação nunca serão descobertos.

assistindo a uma série esses dias, conheci a tal regressão à média, sobre natureza e equilíbrio. significa que não importa o quão ruins ou o quão boas sejam as coisas, a tendência é que a gente esteja vivendo, na maior parte do tempo, no meio disso. acho que é preciso entender que nem a felicidade nem a tristeza são estados permanentes de espírito. e o meu espírito, ainda que no espaço intermediário entre o bom e o ruim, só se satisfaz captando a intensidade total tanto do que é pequeno quanto do que é grande. eu aceito isso. finalmente.

eu, que nunca fui a maior entusiasta de mim mesma e que sempre estive quase, nunca lá, cheguei . e nesse instante, novamente perdida, continuo não sendo suficientemente entusiasta de mim e longe de um lá que mal é rascunho. no entanto, acredito que minhas experiências morando com um rato, uma lagartixa e 50 pessoas com pouca noção de higiene e lidando com preliminares hispânicas na porta do meu quarto me tornaram forte o bastante pra aguentar qualquer merda que surgir no meu caminho, como uma rachel earl sozinha dentro de um trem.

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